sexta-feira, setembro 17, 2004

Tem bastante tempo, um amigo meu (pelo menos o considero ainda assim) pediu que eu explicasse ao mundo minha afinidade com gatos, e, simultaneamente, explicasse o por que não crio cachorros.
Sempre disse pra ele que tais argumentos apareceriam por aqui qualquer hora, mas que não sabia exatamente quando nem o por quê. Hoje tenho um porquê.

Todos sabem, creio eu, que tenho os dois bebês mais lindos do mundo, o Croquete e o Risoles. Fruto de minha placenta peluda, não deixo de me gabar por tais crias, que amo incondicionalmente em épocas de sequidão amorosa.
Encontrei o Crô, junto de suas saudosas irmãs, a Pê e a Abra, numa caixa. Não tinham ainda aberto os olhos e, ao que tudo indica, se não fosse a Família Freitas os adotar, nunca teriam sobrevivido.

Logo, hei de me fazer valer. Qual a diferença principal entre cães e gatos? E entre seus donos?
Vou começar calmamente. Eu poderia dizer que cães comem seu próprio vômito, mas gatos volta e meia também fazem isso. Posso dizer que gatos são interesseiros (por mais que isso seja apenas uma crendice popular barata), mas cães também o são, por mais que isso contrarie muita gente.
Exatamente. O cão é um devoto cego. Exige o fundamental de ti, sem te obrigar a se esforçar. É agressivamente carente, não tem noção de individualidade. Excelente companheiro, mas um companheiro que é capaz de atravessar a barreira do bom senso e de exigir estar presente o tempo inteiro. Adoro cães, mas nestas circunstancias torna-se impossível criá-los.
O gato tem personalidade. É capaz de argumentar e insistir, bater boca e discutir pelo que acredita. Ele só segue quem confia, e não confia em qualquer um. Sabe agredir e pedir desculpas, bem como ouvir quando precisamos. Lunáticas como eu podem, ainda, afirmar que as principais resoluções de vida saíram dos olhos de um gato.
Não é fácil conviver com um gato. Há uma constante luta por espaço, e ele sempre é capaz de te empurrar da tua própria cama. Gatos determinam território, e quando entram num novo recinto deixam seu cheiro para se sentir em casa: mijam nos quatro cantos da casa.
Posso ainda dizer que gato sempre busca te instigar a novas coisas, novas situações, novos argumentos, e raramente estão satisfeitos.
Fazem muitos anos que não crio cachorros. Minha última cã era atacada todo dia pelo Croquete, e insistia em pular em cima dele tentando brincar. Isso é a síntese de um cão: não tem noção de espaço nem de perigo, além de confiar muito facilmente e estar sempre contente.
Isso me incomoda!

Muitas pessoas que só criaram cães na sua vida insistem que ele é o melhor amigo do homem. Isso depende... qual a noção de amizade das pessoas? A minha concepção vai muito além disso! Amigo é aquele que te ajuda, mas que te critica, porque quer o melhor pra ti, e não é hipócrita de te fazer acreditar que tu está perfeito como está.
Claro, devemos fazer um adendo e dizer que pessoas mais inseguras ou que têm um histórico muito dolorido com relação a outras pessoas devem criar cães, porque eles passam uma segurança em si que outro animal qualquer não é capaz. Agora, pessoas mais enérgicas precisam do gato pela razão que ele transmite, bem como pelo pensamento mais racional que ele instiga. Um animal independente deve ser educado (porque gatos não são comandados) por uma pessoa que dê a ele essa liberdade que ele precisa. Que não reprima os instintos, e ainda deixe a vontade para expressar seus sentimentos.
São poucos que chegam ao coração do gato, e menos ainda os que permanecem nele.
Saber que se está entre poucos, faz bem para o ego. Saber que perpetua num ser faz bem para a alma.




**** Hoje faleceu a Incrível Gata Sem Nome, a Gata Maria, a Mitzi, Mi de Miau e qualquer outro nome já atribuído a nossa saudosa felina.

domingo, setembro 12, 2004

Por que transformar a vida numa piada?

Eis então mais uma questão a ser discutida.
Simples. Transformar a vida numa piada.
Ok... nem tanto.

Posicionar-se de forma a rir de si mesmo é uma façanha difícil, num primeiro momento. Quando aprende-se a fazê-lo, torna-se difícil não o adaptar ao dia a dia. Mas... quando isso deixa de ser saudável e passa a ser uma fonte de problemas?
Novamente, insisto. Simples.
Quando a gente passa a transformar as nossas ações, de forma a poder rir delas depois. Não falo de auto sabotagem, porque não chega a ser uma sabotagem no sentido real da coisa. Falo de uma ironia acentuada e estimulada, ações com objetivo de riso, mesmo.
Sabe? Quantas vezes a gente já tomou atitudes para depois rir da cara dos outros envolvidos? Quantas vezes a gente já se menosprezou para sair de papéis por nós mesmos sentenciados, ou apenas pelo prazer de rir da própria cara?
Mas não é uma piada; é uma fuga direta, um esconder-se. Não necessariamente uma máscara, mas uma insegurança. É recusar-se a mostrar a nossa verdade, e assumir uma postura perante ela de forma a banalizar o que sentimos.
É complexo, e não. Não é uma piada.